No dia 15 de novembro, decorreu no
Museu Dr. Joaquim Manso a tertúlia “Do mar para terra. Formas decomunicação”, integrada nas comemorações do Dia Nacional do
Mar, celebrado a 16 de novembro.
A pintura de Coelho da Silva (1909-95), “Sinal à barca”, em destaque como “Objeto do mês de novembro”, assim como as fotografias da artista alemã CharlottePauly (1886 - 1981), serviram de pretexto para recuperar memórias sobre as formas ancestrais de comunicação entre os pescadores da Nazaré, bem como para divulgar as atuais tecnologias que favorecem uma maior segurança para quem está no mar, incluindo a prática subaquática.
Lourenço Gorricha, comandante da Capitania do Porto da Nazaré, traçou a evolução dos equipamentos de comunicação pela ação pioneira da Marinha, desde meados do século XIX, marcando a separação entre o período anterior e o posterior à radiocomunicação. No entanto, se hoje é muito mais seguro andar no mar, graças aos equipamentos eletrónicos e à estrutura global da comunicação por satélite, permanecem ainda formas tradicionais de comunicação, assim como os principios básicos do seu funcionamento.
António Peixe, natural da Nazaré e capitão da marinha mercante durante largos anos, apresentou alguns dos equipamentos de comunicação ao dispor das embarcações, desde a navegação costeira à de longo curso, necessários para o seu posicionamento e orientação, bem como para segurança e transmissão de informações diversas (bandeiras, grafia e heliografia, morse, comunicação por satélite, etc.). Com a progressiva substituição de equipamentos a favor da comunicação atual, foram também desaparecendo ocupações e profissões, como o chamado “pica-pica”.
Bruno Santos, instrutor de mergulho, falou sobre a necessidade de respeitar as normas, locais e internacionais, para a prática segura da modalidade e das estratégias comunicação entre os parceiros. Por fim, despertou a curiosidade dos presentes para as várias embarcações naufragadas ao largo de Peniche, nomeadamente, no conhecido “cemitério dos navios”.
Agostinho da Nascimenta (n. 1925) e Joaquim Estrelinha (n. 1934), trouxeram a sua larga experiência de pescadores, de uma época em que a orientação e a comunicação eram sobretudo intuitivas e através de métodos artesanais. A localização dos “pesqueiros” através dos enfiamentos com “sinais de terra”, a informação sobre a chegada das traineiras às “boias” através dos sinais luminosos dos fogachos e archotes, a prospeção sobre a profundidade do mar através de sondas artesanais, entre outros, foram recordados por estes dois antigos pescadores nazarenos, o primeiro proprietário da traineira “Sol Divino”, o segundo dos barcos do alto “Bela Alice” e “Fonte da Virgem”, depois de ter “andado ao bacalhau”. Ambos concluíram sobre uma infância e uma juventude de “crise e miséria”, de quem teve muitos irmãos, pouca escolaridade e foi colocado na pesca no início da adolescência; mas, é com gosto que falam de uma pesca que requeria vigilância permanente de toda a companha, do conhecimento do mar através de um saber que era passado dos pais para os filhos.
Do “muro dos sinais” existente no
Sítio já são poucas as memórias, uma vez que se destinava à
comunicação diurna com os “galeões”, que foram introduzidos na
Nazaré em 1901, mas que deixaram de existir a partir de finais dos
anos 1930. Nas palavras de José Soares, “não havendo telégrafo
e, muito menos, rádio, para se prover ao transporte de pescado com a
maior destreza, desenhou-se, no topo da falésia, sobre um muro
caiado de branco (…), as siglas dos diferentes galeões e,
junto de cada um desses sinais (era assim que eram
conhecidos), um sinaleiro ou acinador (acenador), que
era também o chamador da companha, servindo-se de um binóculo,
perscrutava o mar e vigiava atentamente os movimentos da lancha
respetiva. Se esta cercava, ele tapava o sinal com o gavão e assim
permanecia, aguardando o desenvolvimento do lanço. Se do galeão
acenavam com o pendão (um remo embandeirado com uma peça de
roupa, vibrado tantas vezes quantas as barcadas de sardinhas
previstas), ele fazia drapejar o seu gavão igual número de vezes,
retransmitindo assim as ordens dadas da embarcação”. As barcas
eram, então, mandadas entrar ao mar.
Recordaram-se as cores dos
vários barcos, alguns até revelando as opções políticas dos seus
proprietários, como o “Cerco Republicano”, pintado de branco e
encarnado e a bandeira portuguesa pintada no costado. Será
porventura deste galeão o sinal da bandeira que ainda se visualiza
no muro reproduzido na fotografia de Charlotte E. Pauly e nos seus
desenhos e pinturas; assim como a “tesoura” pertenceria ao
“Mar-em-Fora Velho” ou o óculo grande, encarnado e branco, ao
“Laranja Novo”.
A tarde terminou após uma conversa
animada em torno da identidade da Nazaré associada ao mar e das suas
potencialidades turísticas.
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