“O Futuro da Memória” foi o tema das Jornadas Europeias do Património
2012. No passado dia 29 de setembro, o Museu Dr. Joaquim Manso associou-se à
iniciativa do Mosteiro de
Santa Maria de Alcobaça, inserindo-se no programa “O Culto
Mariano nos Coutos de Alcobaça. Das origens ao Mosteiro de Santa Maria”,
que contou também com a colaboração da Câmara Municipal de
Alcobaça e da Confraria de Nossa Senhora da Nazaré.
Conforme a proposta deste programa conjunto, pretendia-se
uma identificação “com a memória presente
do culto de Maria, em terras de
Alcobaça e Nazaré, um culto que todos os dias se constrói na
incorporação da memória passada, identificando a futura”, partindo da premissa
que o culto mariano é marca identitária de Portugal.
A manhã foi ocupada com uma visita ao Mosteiro de Alcobaça, sob a
orientação da técnica superior Isabel Costeira. Para além de uma explanação sobre a dedicação
mariana dos mosteiros cistercienses, o grupo percorreu aquele espaço conventual
identificando as figurações associadas ao culto mariano, com destaque para as
imagens de Nossa Senhora do Castelo, Nossa Senhora do Claustro e Nossa Senhora
da Vitória, com passagem pelos “mistérios” representados no túmulo de Inês de
Castro, incluindo ainda a visita à capela da Nova Sacristia e à Capela de Nossa
Senhora do Desterro. Por fim, visitou-se a Igreja de Nossa Senhora da
Conceição.
À tarde, rumou-se ao concelho da Nazaré, para uma primeira
paragem na Igreja de Nossa Senhora das Areias, na Pederneira, em processo final
de restauro. A apresentação da mesma esteve a cargo de Júlio Almeida, da
Confraria de Nossa Senhora da Nazaré, que de seguida encaminhou os
participantes para o local primeiro do dito milagre de Nossa Senhora da Nazaré,
no Sítio. Aqui, visitou-se a pequena Ermida da Memória e o Santuário, onde
permanece a culto a primitiva imagem, para além de outras representações pictóricas
e azulejares alusivas à história do milagre.
Enquanto lugar de memória deste culto e espaço de reflexão
sobre a sua influência e o caráter mais oficial ou popular das suas manifestações, no Museu Dr. Joaquim Manso, Dóris Santos apresentou parte da coleção de ex-votos, registos de santo, "lâminas", medalhas e outros
adereços, entre fotografias, pintura e escultura, bem como documentação
impressa associada ao tema. A pintura de Mário Botas, “O Milagre de Nossa
Senhora da Nazaré” (1981-82) centrou esta mostra, aportando a visão
contemporânea sobre a tradição iconográfica.
Ao fim da tarde, o percurso terminou no concelho de
Alcobaça, na praia de Paredes, cuja pequena capela de Nossa Senhora da Vitória é
motivo da organização anual de dois círios, um que parte da Nazaré
(quinta-feira de Ascensão), outro que parte de Pataias (15 de agosto, Nossa
Senhora da Assunção).
O antropólogo Alberto Guerreiro, técnico superior da Câmara Municipal de
Alcobaça, foi contribuindo com a reflexão sobre a interligação entre a
manifestação popular (profana) e a afirmação litúrgica (sagrada) do culto
mariano nos antigos coutos de Alcobaça, terminando com a alusão aos contornos
da sua permanência actual, na esteira de uma memória multissecular e
transversal à divisão territorial.