De peixe seco e outras conversas…


















Francelina Quinzico, de 55 anos, e Idaliza da Maralha, de 72 anos, naturais da Nazaré, estiveram no Museu Dr. Joaquim Manso à conversa sobre a “seca do peixe”.

A primeira, filha de mãe “cabazeira” e pai pescador, nasceu no seio de uma família numerosa, quando as crianças eram criadas na praia. Por isso, desde sempre, conheceu o que era a “seca do peixe”, embora a ela só se tenha dedicado a tempo inteiro a partir dos 20 anos. Desde então, faça sol ou chuva, calor ou frio, sem férias nem fins-de-semana, todos os dias vai à lota comprar peixe, para amanhar, escalar e estender nos paneiros da Praia.

A sua imagem corre mundo nas fotografias dos turistas que diariamente param junto do “estendal”, mas é ainda do consumo nacional que mais garante o seu sustento, vendendo o peixe seco nos vários mercados da região. As mudanças foram muitas, desde o tempo de infância; as regras de higiene e os hábitos alimentares alteraram-se, mas basicamente o processo de secagem do peixe mantém-se. “E seca-se tudo o que aparecer!”

Também Idaliza da Maralha, de mãe peixeira e pai dono de redes de arte xávega, começou nova a secar peixe, nos intervalos do trabalho na Fábrica de Conservas do “Algarve Exportador”. Nessa altura ainda não se usavam os paneiros, cuja inclinação e rede permitem uma mais rápida secagem; o areal da praia era então totalmente coberto por juncos onde se estendia o peixe. A sua fotografia consta do álbum “Nazaré” (1958), de Artur Pastor para quem se lembra de posar a troco de alguns escudos.

Por fim, depois de explicarem os vários processos, de identificarem os tipos de peixe, o local e os suportes tradicionais e actuais, foi altura de falar sobre como se come o “peixe seco” ou o “carapau enjoado”, que hoje já não se restringem à alimentação doméstica, mas entraram nos restaurantes e hotéis regionais, incluídos em sugestões mais elaboradas.

Neste Dia Nacional do Mar, cuja relevância abrange as práticas gastronómicas e económicas tradicionais, o Museu Dr. Joaquim Manso manifesta o seu reconhecimento à vintena de mulheres (e homens) que perdura estes saberes na Praia da Nazaré, fundamentando a sua continuidade pelo seu real valor económico e social, muito para além de uma opção turística.

Prestamos os nossos agradecimentos à D.ª Francelina e à D.ª Idaliza pela partilha das suas memórias e testemunhos; à Escola Profissional da Nazaré, pela simpática e interessada presença dos alunos do 2º Ano do Curso de Restauração; à Câmara Municipal da Nazaré pela colaboração no transporte e divulgação; a todos os restantes participantes que, no Museu Dr. Joaquim Manso, contribuíram para uma animada tarde cultural, em que se ouviu falar de "saberes" e "sabores" do mar, no Dia Nacional do Mar.

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